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NILO BRUZZI
Nilo de Freitas Bruzzi nasceu em Pomba, Minas Gerais em 1879, e faleceu no Rio de Janeiro em 1978. Bacharel em direito, foi Procurador Geral do Estado do Espírito Santo. Advogado e jornalista.
Deixou, a partir do livro de contos O Antunes, de 1920, copiosa obra literária da qual destacamos o Auto de Nossa Senhora da Vitória (teatro, Rio de Janeiro: SNT, 1951), bela peça que foi encenada quando das comemorações do IV Centenário de Vitória, em 1951. Publicou as obras Luar de Verona (versos); O Antunes (contos); Livro de amor (versos); O bohemio e As de rosto bello e as de beleza na alma (palestras literárias).
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Biografia: www.sefa.es.gov.br
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ÚNICA
No turbilhão da vida cotidiana
Há sempre um rosto oculto de mulher.
Há no tumulto da existência humana
Alguém que a gente quis e ainda quer.
E numa sede de paixão insana,
Cego e humilhado, aceita outra qualquer,
Mas, no íntimo ardor, de alma profana
Porque a alma nem acordará sequer.
E vão passando, assim, uma por uma,
Mulheres e mulheres , como vieram,
Sem depois despertar saudade alguma…
Pobre de quem, como eu, vê que, infeliz,
Tive todas aquelas que o quiseram
Mas, nunca teve aquela que ele quis.
A MULHER NA POESIA DO BRASIL. Coletânea organizada por Da Costa Santos. Belo orizonte, MG: Edições “Mantiqueira”, 1948. 291 p. 14x18 cm. Capa de Delfino Filho.
Ex. bibl. Antonio Miranda
DESCONHECIDA
Sempre ela vinha, quando eu não estava,
Uma rosa depor na minha jarra,
E aquela rosa se despetalava
Sobre a alvura macia do meu leito...
E ela assim, diariamente, continuava...
A ternura novíssima, bizarra,
Daquele gesto pôs-se contrafeito
Pois, nunca no meu quarto eu ficava.
E muitos dias, meses, vários anos,
Eu levei esperando que ela viesse
Reter a marcha dos meus desenganos...
Preferiu continuar desconhecida...
(Antes nunca uma rosa ela me desse)
Foi a mulher que eu mais amei na vida...
DESPREZADA
Eu imagino a dor que te crucia!
E é com piedade, com profunda pena,
Que te acarinha a minha mão serena
Que nunca descreveu uma alegria...
Almas há, pobre amiga, frias, de hiena,
Que indiferentes passam nesta via
Dolorosa, sangrenta, de agonia,
Sem nem olhar a nossa dor terrena...
Esconde um silêncio de teu peito
E na quietude do virgíneo leito
A mágoa que os amores te causaram,
Porque a humana piedade dos humanos
É, talvez, o maior dos desenganos
Que no mundo os perversos espalharam...
*
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Página publicada em setembro de 2021
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